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A vida é tão rara.

Sentei-me na cama e pedi à lua que me iluminasse bem o papel, queria escrever, escrever sem parar. Escreve a obra da minha vida. O texto que fizesse chorar as pedras da calçada. Da alma para o papel. 
E foi então que pensei que para escrever algo que fizesse justiça a tudo isso, teria de escrever sobre ti, sobre nós.
Já não escreveria sobre o que se passou, sobre o passado, mas sim sobre um futuro que poderia ser O futuro. E tudo começou a surgir... Na minha cabeça passavam-se cenas em modo de filme, as cores e os brilhos compunham-se numa sintonia perfeita e conseguia ver-nos de mão dada a conquistar passo a passo uma vida.
Uma melga picou-me e perdi toda a concentração desse momento cinematográfico e foi aí que percebi que no dia-a-dia é assim mesmo. Estás focada num sentido, naquilo que queres para ti e do modo como o vais conseguir, mas alguma coisa te desconcentra e perdes o norte. 
Sou uma pessoa que muito dificilmente perde o seu sentido, mas quando perde, é a sério. E sou assim porque quero planear a vida ao segundo, não quero ter surpresas desagradáveis pelo caminho, não quero ir na rua de saltos e um deles se partir e perder toda a elegância com que tinha saído de casa. 
E planeei essa elegância a dois, durante meses a fio via à minha frente o mundo a girar a meu favor, conspirando a nossa favor.
Como que num golpe de pouca sorte tudo se desmoronou, bastaram cinco segundos de uma loucura insana com palavras sem sentido na minha cabeça para perceber que também o mundo conspira contra nós mesmo quando parecia estar a fazer o contrário.
Levanto-me rasgo os papéis que já tinha escrito e atiro-os para o lixo. 
Recomeço.
Penso nos imprevistos, e nos não imprevistos. E só me consigo lembrar de uma mão a apertar a minha, de um nariz a procurar um cheiro característico, de uma lágrima que teima em cair e nesse preciso momento passa na rádio uma música que fez parar o tempo e apercebi-me que não preciso de escrever a obra da minha vida que faria chorar as pedras da calçada... Eu estou a vivê-la.


"Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma

A vida não pára...

E quando o tempo acelera e pede pressa
Eu recuso faço hora, vou na valsa
A vida é tão rara...
E quando todo o mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...
O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...
Será que é tempo que me falta para perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber, a vida é tão rara
Tão rara..."

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